18 de maio de 2012

Conto


E ela foi ficando triste. Triste porque não sabia o que fazer, porque ninguém a compreendia, porque ninguém a aceitava. Triste por saber que qualquer esforço feito tinha sido em vão, por achar que tudo foi um desperdício, por acreditar que seria sempre assim. E a sua verdade era cinza, sua vida era uma piada de mau gosto, talvez escrita por algum escritor de mau humor. Aquela, que um dia tinha sido tão radiante, aquela que sempre espalhava sua felicidade e fulgor por onde passava, agora era só um rascunho em preto e branco, era só uma imagem de um dia de neblina. Ela, que sempre desprendeu tanto calor agora era quase fria, quase invisível, se misturava à paisagem. Dava encontrões só pra conseguir sentir alguma coisa, pra sentir alguém, pra se sentir. Via, mas não era vista, sentia tanto que resolveu deixar de sentir, de pensar.
E procurava algo pra substituir o que um dia tinha sido, alguma coisa pra preencher o buraco que ficou. Parecia uma folha no vento, jogada pra lá e pra cá de acordo com a vontade alheia. Achava que não fazia parte de nada e que fazia parte de tudo, que tudo dizia respeito a ela, que tudo era culpa dela, que todo sofrimento do mundo era seu e que toda a culpa era sua também.
E aprendeu a ser uma página em branco, preenchida de acordo com as necessidades dos outros. Se alguém precisava de uma menina alegre, lá estava ela com sua máscara de palhaço, se esforçando pra conseguir convencer a todos de que a encenação era verdade. Se alguém precisasse se apoio, ela tirava as próprias muletas e emprestava a quem precisasse, sempre se anulando, se colocando em último lugar.
A verdade era que ela não gostava de si mesma, não gostava de ser quem era e de fazer o que fazia, mas era o que os outros queriam que ela fosse. E ela aprendeu a ser atriz, a esconder o que ela queria e a dançar conforme a música.
E ela esqueceu tudo o que ensinaram pra ela: esqueceu o príncipe encantado, deixou de lado a magia e parou de esperar pelo final feliz. Se acostumou com o trivial, se contentou com o comum, a meta agora não era mais o “felizes para sempre” e sim “não se sentir um lixo todos os dias”. Concordou que felicidade existe sim, mas não era pro seu bico, era coisa de livro, de novela e de filme.
E virou uma mulher comum, dessas que você encontra pela rua. Ela pode estar bem vestida, maquiada e até esboçar um sorriso, mas por dentro, lá no fundo, ela deixou aquele fio de esperança se apagar. Não tem mais aquela luz da inocência, nem a esperança que a ignorância traz. Tem somente a crença de que está tudo bem, que poderia ser pior, e que um dia tudo isso vai passar, que tudo vai acabar, até que dela não se sobre nada, muito menos lembranças, porque durante toda a sua vida ela foi isso: nada. Ninguém.


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