E ela foi ficando
triste. Triste porque não sabia o que fazer, porque ninguém a
compreendia, porque ninguém a aceitava. Triste por saber que
qualquer esforço feito tinha sido em vão, por achar que tudo foi um
desperdício, por acreditar que seria sempre assim. E a sua verdade
era cinza, sua vida era uma piada de mau gosto, talvez escrita por
algum escritor de mau humor. Aquela, que um dia tinha sido tão
radiante, aquela que sempre espalhava sua felicidade e fulgor por
onde passava, agora era só um rascunho em preto e branco, era só
uma imagem de um dia de neblina. Ela, que sempre desprendeu tanto
calor agora era quase fria, quase invisível, se misturava à
paisagem. Dava encontrões só pra conseguir sentir alguma coisa, pra
sentir alguém, pra se sentir. Via, mas não era vista, sentia tanto
que resolveu deixar de sentir, de pensar.
E procurava algo pra
substituir o que um dia tinha sido, alguma coisa pra preencher o
buraco que ficou. Parecia uma folha no vento, jogada pra lá e pra cá
de acordo com a vontade alheia. Achava que não fazia parte de nada e
que fazia parte de tudo, que tudo dizia respeito a ela, que tudo era
culpa dela, que todo sofrimento do mundo era seu e que toda a culpa
era sua também.
E aprendeu a ser uma
página em branco, preenchida de acordo com as necessidades dos
outros. Se alguém precisava de uma menina alegre, lá estava ela com
sua máscara de palhaço, se esforçando pra conseguir convencer a
todos de que a encenação era verdade. Se alguém precisasse se
apoio, ela tirava as próprias muletas e emprestava a quem
precisasse, sempre se anulando, se colocando em último lugar.
A verdade era que ela
não gostava de si mesma, não gostava de ser quem era e de fazer o
que fazia, mas era o que os outros queriam que ela fosse. E ela
aprendeu a ser atriz, a esconder o que ela queria e a dançar
conforme a música.
E ela esqueceu tudo o
que ensinaram pra ela: esqueceu o príncipe encantado, deixou de lado
a magia e parou de esperar pelo final feliz. Se acostumou com o
trivial, se contentou com o comum, a meta agora não era mais o
“felizes para sempre” e sim “não se sentir um lixo todos os
dias”. Concordou que felicidade existe sim, mas não era pro seu
bico, era coisa de livro, de novela e de filme.
E virou uma mulher
comum, dessas que você encontra pela rua. Ela pode estar bem
vestida, maquiada e até esboçar um sorriso, mas por dentro, lá no
fundo, ela deixou aquele fio de esperança se apagar. Não tem mais
aquela luz da inocência, nem a esperança que a ignorância traz.
Tem somente a crença de que está tudo bem, que poderia ser pior, e
que um dia tudo isso vai passar, que tudo vai acabar, até que dela
não se sobre nada, muito menos lembranças, porque durante toda a
sua vida ela foi isso: nada. Ninguém.
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